A edição da entrevista
As entrevistas que aparecem nos jornais e nas revistas não são uma mera reprodução do depoimento da personalidade enfocada. Nem sempre as respostas são apresentadas na ordem como foram ditas e, às vezes, trazem até termos que não foram usados pelo entrevistado. As declarações são reorganizadas, cortadas e alteradas pelo jornalista de acordo com seus objetivos: ilustrar uma afirmação, endossar uma tese, apontar uma contradição... Esse processo chama-se edição. Compreendê-lo é fundamental para uma leitura crítica.
Veja a transcrição de parte de uma conversa em que a psicóloga Terezinha Nunes dava ao editor Ricardo Falzetta um exemplo de proporção. O texto tem trechos típicos da oralidade que precisam ser suprimidos:
"...Então se você diz assim: uma manga custa 1 real e 10. Tá muito cara essa manga? Não sei quanto custa uma manga. Uma manga, vamos dizer, custa 90 centavos. Isso já é uma relação entre duas variáveis: a quantidade de mangas e o preço."
Na entrevista publicada em nossa edição de abril, a resposta ficou mais curta, clara, lógica e
formal:
"Quando dizemos que uma manga custa 1,10 real, temos uma relação entre duas variáveis, a quantidade de mangas e o preço."
Um pouco de história
Os primeiros e mais conhecidos diálogos são atribuídos ao filósofo grego Platão (429- 347). Apesar de ter aprendido a importância da conversação com Sócrates, de quem era discípulo, foi Platão o primeiro a adotar esse método para escrever textos filosóficos. As idéias têm de ser deduzidas com base no que dizem os personagens criados por ele. O personagem principal dos primeiros diálogos de sua autoria é Sócrates. Foi a forma encontrada por Platão para eternizar as idéias do mestre, que não deixou nada escrito. À medida que vai amadurecendo as próprias concepções, no entanto, ele passa a criar personagens para exprimi-las. Eles discutem assuntos complexos como a natureza humana, a virtude, a sabedoria, a justiça e, principalmente, a política— seu tema preferido. Os diálogos, enriquecidos com exemplos da vida cotidiana, contribuíram para que as idéias platônicas atingissem mais facilmente o grande público. Veja o trecho abaixo, extraído de O Banquete, em que os personagens Sócrates e Diotima discutem sobre o amor:
— Que seria então o amor, ó Diotima? Um mortal?
— Como nos casos anteriores, algo entre mortal e imortal.
— O que, então, ó Diotima?
— Um grande gênio, ó Sócrates. E, com efeito, tudo o que é gênio está entre um deus e
um mortal.
— E com que poder?
— O de interpretar e transmitir aos deuses o que vem dos homens, e aos homens o que vem dos deuses, de um as súplicas e os sacrifícios, e dos outros as ordens e recompensas pelos sacrifícios; e como está no meio de ambos ele os completa, de modo que o todo fica ligado todo ele a si mesmo.
Plano de aula
Para transformar entrevistas gravadas em textos editados, a turma necessita se empenhar na
compreensão do que foi dito. Só assim poderá apresentar ao leitor uma versão fiel das idéias relatadas. Proponha que a classe, tal qual os jornalistas, entreviste pessoas sobre algum assunto que esteja sendo estudado. Depois peça a transcrição exata e uma edição do depoimento, como se fosse para publicação em um jornal ou uma revista, seguindo estes passos:
1. cortar passagens repetitivas ou palavras e expressões que funcionam bem oralmente, mas que, em geral, são desnecessárias na escrita;
2. acrescentar informações que não tenham sido ditas, por serem facilmente subentendidas, mas que precisam aparecer na versão escrita;
3. substituir termos vagos por palavras ou expressões mais específicas;
4. inverter expressões para deixar as idéias mais claras;
5. dividir o texto em parágrafos e frases, empregando a pontuação adequada e usando as letras maiúsculas de modo correto.
OBS.: Este plano de aula, tal qual o plano referente ao uso das tirinhas na sala de aula, foi retirado do livro didático PALAVRA CHAMA PALAVRA, de autoria de Roberto Magalhães e Clodoaldo M. Cardoso (Editora do Brasil).
As entrevistas que aparecem nos jornais e nas revistas não são uma mera reprodução do depoimento da personalidade enfocada. Nem sempre as respostas são apresentadas na ordem como foram ditas e, às vezes, trazem até termos que não foram usados pelo entrevistado. As declarações são reorganizadas, cortadas e alteradas pelo jornalista de acordo com seus objetivos: ilustrar uma afirmação, endossar uma tese, apontar uma contradição... Esse processo chama-se edição. Compreendê-lo é fundamental para uma leitura crítica.
Veja a transcrição de parte de uma conversa em que a psicóloga Terezinha Nunes dava ao editor Ricardo Falzetta um exemplo de proporção. O texto tem trechos típicos da oralidade que precisam ser suprimidos:
"...Então se você diz assim: uma manga custa 1 real e 10. Tá muito cara essa manga? Não sei quanto custa uma manga. Uma manga, vamos dizer, custa 90 centavos. Isso já é uma relação entre duas variáveis: a quantidade de mangas e o preço."
Na entrevista publicada em nossa edição de abril, a resposta ficou mais curta, clara, lógica e
formal:
"Quando dizemos que uma manga custa 1,10 real, temos uma relação entre duas variáveis, a quantidade de mangas e o preço."
Um pouco de história
Os primeiros e mais conhecidos diálogos são atribuídos ao filósofo grego Platão (429- 347). Apesar de ter aprendido a importância da conversação com Sócrates, de quem era discípulo, foi Platão o primeiro a adotar esse método para escrever textos filosóficos. As idéias têm de ser deduzidas com base no que dizem os personagens criados por ele. O personagem principal dos primeiros diálogos de sua autoria é Sócrates. Foi a forma encontrada por Platão para eternizar as idéias do mestre, que não deixou nada escrito. À medida que vai amadurecendo as próprias concepções, no entanto, ele passa a criar personagens para exprimi-las. Eles discutem assuntos complexos como a natureza humana, a virtude, a sabedoria, a justiça e, principalmente, a política— seu tema preferido. Os diálogos, enriquecidos com exemplos da vida cotidiana, contribuíram para que as idéias platônicas atingissem mais facilmente o grande público. Veja o trecho abaixo, extraído de O Banquete, em que os personagens Sócrates e Diotima discutem sobre o amor:
— Que seria então o amor, ó Diotima? Um mortal?
— Como nos casos anteriores, algo entre mortal e imortal.
— O que, então, ó Diotima?
— Um grande gênio, ó Sócrates. E, com efeito, tudo o que é gênio está entre um deus e
um mortal.
— E com que poder?
— O de interpretar e transmitir aos deuses o que vem dos homens, e aos homens o que vem dos deuses, de um as súplicas e os sacrifícios, e dos outros as ordens e recompensas pelos sacrifícios; e como está no meio de ambos ele os completa, de modo que o todo fica ligado todo ele a si mesmo.
Plano de aula
Para transformar entrevistas gravadas em textos editados, a turma necessita se empenhar na
compreensão do que foi dito. Só assim poderá apresentar ao leitor uma versão fiel das idéias relatadas. Proponha que a classe, tal qual os jornalistas, entreviste pessoas sobre algum assunto que esteja sendo estudado. Depois peça a transcrição exata e uma edição do depoimento, como se fosse para publicação em um jornal ou uma revista, seguindo estes passos:
1. cortar passagens repetitivas ou palavras e expressões que funcionam bem oralmente, mas que, em geral, são desnecessárias na escrita;
2. acrescentar informações que não tenham sido ditas, por serem facilmente subentendidas, mas que precisam aparecer na versão escrita;
3. substituir termos vagos por palavras ou expressões mais específicas;
4. inverter expressões para deixar as idéias mais claras;
5. dividir o texto em parágrafos e frases, empregando a pontuação adequada e usando as letras maiúsculas de modo correto.
OBS.: Este plano de aula, tal qual o plano referente ao uso das tirinhas na sala de aula, foi retirado do livro didático PALAVRA CHAMA PALAVRA, de autoria de Roberto Magalhães e Clodoaldo M. Cardoso (Editora do Brasil).
MUITO BOM! BOM MESMO! PELA SIMPLICIDADE, PELA PRATICIDADE!
ResponderExcluirFERNANDO RAMOS